Para os grandes varejistas brasileiros, o mês de janeiro tem um ponto de encontro: a NRF Big Show, o maior evento do setor no mundo. Eles estão sempre entre as maiores delegações estrangeiras em Nova York, garantindo que o português seja muito ouvido pelos corredores do Jacob Javits Center.
Há 10 anos, eu acompanho o evento e é uma oportunidade de analisar o que aconteceu na temporada de fim de ano e fazer um checkpoint, conferindo se as tendências dos anos anteriores amadureceram ou ficaram pelo caminho. Da mesma forma, o evento é a ocasião em que novas tendências ganham corpo.
Dois tipos de tendências
Nem toda inovação do varejo é um cometa que surge, deixa um rastro enorme e vai embora. Muitas vezes, ela evolui um pouco por vez, gradativamente, ganhando força, até realmente acontecer.
Ao mesmo tempo em que o evento identifica tendências ainda “não maduras”, também consolida conhecimentos e debates de tecnologias já aplicadas e seus resultados. Por exemplo, há dois anos, no pico da variante ômicron da covid-19, a NRF Big Show discutia o então nascente Metaverso, e tratava de assuntos que hoje são extremamente relevantes e seguem em alta no varejo: transformações no Supply chain, o novo papel da loja física, ecossistemas de negócios, ESG, cultura e liderança.
Com certeza, os negócios tiveram que repensar a cadeia de suprimentos e as lojas físicas, além de incorporar questões de sustentabilidade e impacto social, ao mesmo tempo em que construíam parcerias com outras empresas e capacitavam seus líderes.
Já na edição do ano passado, o evento manteve a importância dos ecossistemas, o papel da loja, ESG e a cultura e liderança como temas essenciais para o futuro do varejo, ao mesmo tempo em que incorporou novas questões, entre elas, a hipercustomização, conveniência, qualidade dos dados, retail media e a importância estratégica dos colaboradores.
O que podemos esperar da NRF Big Show 2024?
E o que, afinal de contas, deverá ser destaque no maior evento de varejo do mundo? Com 11 palcos e 19 keynote speakers, além de 175 sessões de palestras e quase 30 mil metros quadrados de área de exposição com mais de 1.000 fornecedores de produtos e serviços, eu tenho a sensação de que pode ser uma das melhores edições da NRF Big Show dos últimos cinco anos.
E por que eu tenho toda essa expectativa?
O varejo vem em uma transformação tão intensa que precisamos, mais do que nunca, de um fórum para consolidar todas as diferentes visões sobre a inovação, a transformação, a tecnologia e as pessoas. E onde 40 mil pessoas se encontram para discutir o que vem ocorrendo no setor e projetar o futuro, as coisas acontecem.
O que certamente será destaque nesta edição do evento:
Experiências que engajem os clientes
Não basta ter produto e preço, pois esses fatores são copiáveis. A real diferença está no encantamento do cliente. Isso passa pela construção de uma experiência completa, que conecta digital e físico, passa pelos profissionais de vendas, usa intensamente a tecnologia para entender o que o consumidor deseja e depende de processos muito bem amarrados para que funcione muito bem.
O maior desafio do varejo é conseguir entregar experiências incríveis, até porque pessoas diferentes têm reações diferentes diante de uma mesma proposta de valor. O mesmo cliente pode também reagir de forma distinta, de acordo com o que ele busca em cada momento. Isso só será possível com o uso intensivo de dados e olhar fixo no indivíduo.
Hiperpersonalização
Varejistas líderes em todo o mundo estarão nos palcos do evento – e seus casos de sucesso contarão com pitadas de personalização no relacionamento com os consumidores. Esse pode ser um tema forte no evento, pois é uma demanda dos clientes. Hoje em dia, quem é genérico fica pelo caminho.
Conveniência
Essa é outra palavra mágica. Conveniência significa uma experiência simples e prática na hora de comprar um produto. Pode se traduzir, no dia a dia, por uma loja na esquina de casa, que tem tudo o que o cliente precisa, ou pela entrega super-rápida das compras online. Para acontecer, a conveniência depende de excelência operacional e de entender muito bem que produtos e serviços cada consumidor valoriza.
Social commerce
A evolução do varejo pelas mídias sociais, como o live commerce, o uso do WhatsApp para consumo e outros canais digitais, ocupa um papel essencial no relacionamento com os clientes. Por isso, será um ponto de destaque nos painéis do evento.
Retail media
O uso de plataformas digitais de mídia proprietária ganhou muito espaço no último ano, especialmente, no varejo americano. As maiores redes de supermercados têm uma operação consistente de retail media, e o Brasil já vem acompanhando essa tendência. É uma oportunidade imensa de obter mais informações sobre os clientes e monetizar essa base de informações, fazendo com que a indústria consiga apresentar suas ofertas e promoções para o público certo, na hora certa.
Inteligência Artificial
É claro que a NRF Big Show vai falar de Inteligência Artificial (IA) – tem sido assim em todo evento de negócios no mundo no último ano. Mais ainda: espero um mergulho em como ela pode ser usada, em todas as suas vertentes, para entregar melhores promoções, ofertas, produtos, eficiência operacional, comunicação com o cliente e resultados.
Mais do que conhecer a aplicação de IA Generativa, o foco deve estar em como esse arsenal de ferramentas ainda pouco conhecidas pode aumentar o nível de automação de processos do varejo, aumentando eficiência e gerando mais oportunidades para que o time de vendas se relacione melhor com os clientes, sem desconsiderar os limites éticos. E, claro, venda muito mais.
E não para por aí. Espero poder encontrar discussões que permeiem a tríade do futuro da IA: ética, aplicabilidade e regulação. Estamos passando da era da informação para a era da imaginação, em que nossa criatividade e imaginação individual e coletiva se tornam os principais criadores de valor econômico em comparação com as principais atividades da era da informação, quando a análise e o pensamento, e o armamento disso, eram os impulsionadores do valor.
O maior evento de varejo do mundo está às portas – teremos dias intensos, de muita troca de conhecimento e geração de insights. Você está preparado para transformar seu negócio neste ano?
Por: Carlos Alves, vice-presidente de Tecnologia e Negócios da Cielo